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Descobre quem és. Esquece quem és.

Giordano Duarte, Coach e fundador da Eutêntico

 

 

Quando me perguntavam em criança:

 

- O que queres ser quando fores grande?

 

Tinha a resposta na ponta da língua: - Arquitecto!

 

Sempre tive a sensação de ser um felizardo, por saber desde essa altura o que queria ser e por ter concretizado esse sonho. Ausentei-me do meu país (Cabo Verde) para me formar e quando terminei, aceitei uma excelente proposta para lá voltar. Cabo Verde, estava no auge do investimento imobiliário. Tudo corria bem pessoal e profissionalmente. Estava finalmente a viver o sonho de criança - ser arquitecto.

 

Esse tempo de bonança não durou muito. Um cocktail de eventos estava prestes a emergir, o qual viria mudar o meu percurso até hoje.

A crise no mercado imobiliário chegou e com ela o fim do projecto que me levou a Cabo Verde. A relação com a minha companheira na altura piorava a cada dia e tive que tomar a difícil decisão de me separar não só dela, como do meu filho que tinha então um ano - esse processo dava para contar outra história para o Dar o Click.

Capotei de carro numa curva e saí ileso sem saber como - lembro-me de estar a chorar compulsivamente no chão a olhar para o carro destruído e a pensar que o pior poderia ter acontecido. Recebi uma chamada do meu pai a dizer que meu avô - pai dele - tinha falecido. Um mês e pouco depois recebo uma chamada de um tio meu a dizer que o meu pai tinha falecido. E neste mesmo período morre um companheiro na mesma curva onde eu tive o acidente. Enfim, deparei-me num estado de completa vulnerabilidade perante a observação da impermanência das coisas ou da vida.

 

Comecei a reflectir sobre sentido da vida e de tudo o que tinha acontecido e não encontrava uma resposta. Mas tinha que me mexer. Agarrei na minha identidade profissional e decidi deixar quase tudo voando outra vez para o estrangeiro para fazer agora um Mestrado. Acreditava que a fase menos boa tinha ficado para trás e que eu iria agora iniciar um novo ciclo. Iria…mas mal sabia eu que ainda estava na rota descendente.

 

A senhora - impermanência da vida - fez-me mais uma visita. Desta vez para colocar em causa quem eu era e o que fazia. Talvez ela já o estivesse a fazer com o cocktail de eventos que referi mas desta vez fê-lo a partir de dentro. Enquanto trabalhava um vazio interior, crescia lentamente assim como uma sensação de falta de propósito ou de estar aquém do meu potencial. Mas eu resistia, resistia, resistia, com medo de confrontar-me com a possibilidade de abrir mão daquilo em que tinha investido tanto - o meu sonho de criança. Tentei dourar a pílula procurando outras formas de abordar a arquitectura mas continuava a faltar algo. Ironicamente recebi por essa altura uma menção honrosa no âmbito do Prémio Nacional de Arquitectura em Cabo Verde. Foi a partir desse momento que senti que tinha de tomar uma decisão. Ou fingia que nada se passava procurando apenas fazer melhor o que já fazia ou abraçava o desconhecido iniciando um caminho de busca e experimentação de quem eu era ou poderia vir a ser.

 

Decidi pela segunda opção porque tinha apenas uma certeza - o que não queria. Que era continuar a trabalhar várias horas por dia, sentado à frente dum computador a fazer algo que, embora gostasse, não constituía uma mais valia considerável nem para o meu crescimento pessoal, nem para o dos outros. Foi aí que eu percebi que a minha percepção sobre como estar no Mundo tinha mudado e que o sonho de criança já não me servia. O problema não era a actividade, mas sim o propósito que associava à actividade. Restava-me agora aceitar essa realidade e abraçar a vulnerabilidade de lidar com o desconhecido e o caminho novo. Deixei cair a história do sonho que me prendia e abri-me a novas possibilidades. Surgiu então a pergunta:

 

- Quem quero ser agora que sou grande?

 

Após um período de experimentação, reflexão e de contacto com outras histórias de vida, descobri que queria trabalhar com e para as pessoas, na área do desenvolvimento pessoal. Foi assim que cheguei ao Coaching onde hoje ajudo pessoas a iniciar processos de mudança em suas vidas, a lutar por aquilo que querem, a deixar o que já não querem, a ganhar consciência da sua individualidade - dons, valores, propósito, crenças potenciadoras e limitadoras - e a fazer escolhas alinhadas com quem verdadeiramente são, para poderem viver uma vida mais autêntica.

 

Nós apegamo-nos a muitas coisas - pessoas, contextos, objectos, histórias, memórias, sonhos, crenças, etc. - que passam a fazer parte de quem nós somos e da(s) nossa(s) identidade(s). Mas eventualmente algumas deixam de nos servir. Perceber isso e desapegarmo-nos delas é muitas vezes o desafio.

 

Descobre quem és. Esquece quem és.

 

www.eutentico.com

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