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Para além de mim

Carolina Ferraz, Artista

 

Para além….

Para além das regras, das obrigações, das estruturas

 

Para além…

Dos desejos, das frustrações, dos traumas…

Para além da noite fria que nunca mais acaba…

Há sempre um sol para nascer… uma terra de luz e resolução.

Para além de todas as coisas difíceis de distinguir e digerir..

Há a VIDA.

Simples assim, fonte milagrosa de energia leve e fluida.

A vida é o todo e basta-se a si mesma.

Somos. Todos os que existem. Concretizados e realizados nesta acontecimento brutal que é a existência.

Partilho-a com os meus, com os outros, com os ninguéns, com os fundamentais.

Com as flores, com os animais, as plantas e as árvores.

Todos temos EXISTÊNCIA em comum…

Não há nada mais valioso!

 

A minha mais importante e difícil tarefa é manter esta visão límpida, translúcida, visível, palpável.

Mesmo depois de ser deitada ao chão pelas mil e quinhentas coisas que me acontecem frequentemente.

 

O meu poder máximo: A minha Visão, o meu ponto de vista, para onde escolho olhar, o que escolho ser.

 

Escolho ser a centelha divina, esse pedaço de luz que habita o meu corpo e movimenta as minhas energias todos os dias.

Os fáceis e os difíceis.

Eu Sou, para Além…

Para além das escolhas que parecem erradas,

Para além do difícil escalar da montanha.

Há uma união, há uma missão e, a meu ver é essa mesmo.

Ser integral como no original. Eu em modo essencial.

Eu passo pelo difícil, o difícil não passa para mim e me torna a sua essência - eu já vivo na minha essência, não há espaços para outras.

Eu passo e ultrapasso os obstáculos, as curvas, os desalinhos, o que deu errado.

Eu passo por. . . E saio de lá inteira, cada vez mais unida a mim mesma.

Não acredito que somos atirados ao acaso para o alheio… Nós somos o acaso, somos o alheio o baralhado e o resolvido, está tudo em nós.

Nascemos em modo puzzle por montar. Cada um com as suas próprias instruções, não vale a pena copiar as do vizinho em vez de nos montarmos, confundimo-nos…

 

Apercebi-me que procurava estável, apercebi-me que estável é estagnado.

A vida é movimentação constante.

A terra gira a toda a hora, o meu coração bombeia a toda a hora, os meus pulmões respiram a toda a hora, as células trabalham constantemente…cumprem-se.

Somos parte integrante desse movimento constante, ele revela-se pelos poros, pelo pensamento, pelo sentir intenso e extenso.

A constante insatisfação do coração, será que ele é mesmo insatisfeito? Ou simplesmente é cumpridor do seu fado, a constante movimentação microcósmica do Universo.

Estamos ligados, estamos em movimento, o movimento é impulsionado por contrários. Dia/noite; quente/frio; agradável/desagradável.

Quantas ‘birras’ faço eu quando a noite se cumpre e me cai sobre a vida?

Ciclo de quente, ciclo de frio, aprendizagem no meio claro, mas sem objectivo de conclusão. Conclusão em vida, não! A vida em vida não se conclui, evolui…constantemente.

Ou estamos ligados, atentos, disponíveis, ou fazemos birras para tentar para o ciclo.

Ele avança na mesma, quer queiramos ou não, a diferença está na maneira de lidar com isso. Na resistência que se cria.

 

+ Resistência + Atrito = + Dor. Quanto maior a aceitação maior a resolução.

 

Evoluir não é fazer da vida um mar de rosas, é saber nadar no mar de rosas e no mar espinhos com a mesma vontade, com a mesma noção de fazer parte do movimento, não ser vitima dele.

Felizmente sempre quis poucas coisas, sempre fui mais vezes grata pelo raio de sol, pela flor isolada que nasce no sitio improvável, pelos pássaros que cantam a Primavera.

É o que me relembra que pertenço aqui mas também pertenço para além disto tudo, do duro e do denso.

Por ter querido sempre poucas coisas aconteceram-me sempre muitas, maravilhosas e tenebrosas, gosto de todas!

Todas as manifestações que a vida tem tido para comigo, honram-me, fazem-me pertencer ao acontecido ao não esquecido.

As minhas histórias são as mais importantes, são a prova da minha existência, para mim.

Não sou de planear nada além do dia de hoje, já tentei fazê-lo, sabe-me a contrário.

Se fosse de planear, não teria planeado nada do que me é mais rico na vida. Se fosse de planear e ainda bem que não sou, duvido que escolheria aos 30 anos ter 5 filhos com o meu namorado de adolescência.

Mas tenho e sou integralmente feliz, porque felizmente deixámos-nos ficar bêbados de amor e ainda continuamos, e entregues ao vento. Duvido que conseguisse planear uma satisfação tão plena e intensa como a que tenho.

Com todas as dificuldades e lutas inerentes, e não são poucas, com todas as duvidas todos os medos. Não conseguiria planear nada mais perfeito e inteiro.

Tenho de tudo, muito riso, muito choro, muita certeza, muita duvida… e o mais importante concedo-me o direito de escolha.

Eu valho o que eu decido valer, muitos outros podem tentar decidir o que valho, estão a vontade porque dentro de mim a escolha é minha e esse poder é meu.

Eu sou o que decido ser. Mesmo que mude de opinião e vontade constantemente, eu sou o que me sei e me conheço.

Eu escolho as armas que quero usar e quando usar.

Eu vagueio pelas correntes de luz e do amor, porque elas existem e porque eu as reconheço e decido dar-lhes valor de prioridade.

Aceito a vida como ela é, também esperneio e birro, mas no fim aceito.

Vejo-a sempre certa, muito mais do que os meus anseios de tudo e de nada.

Não me demito do meu próprio poder, apesar de ter consciência que sou uma simples embarcação no imenso oceano, tenho o leme na mão. Mas às vezes os ventos e as correntes têm outro destino para a minha viagem e eu vou…

Eu escolho o barco, às vezes o caminho, outras vezes escolho deixar o oceano escolher.

 

Todas as noites, quando o silêncio chega pelo respirar profundo das crianças que dormem sossegadas nas suas caminhas quentinhas, aquela hora tardia em que os problemas que existem passam para o dia a seguir, eu penso:

 

- Aqui e agora, aqui e agora neste segundo, está tudo bem!! Respiro uns segundos sobre este segundo perfeito que eu escolho reparar que existe, quase todos os dias. E é nesse segundo que me reencontro e relembro:

 

- Eu Sou para Além, aqui e agora, mas também, para além…

 

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