top of page

Em busca da minha Bola

Teresa de Matos, Master Coach Educativa & Formadora

 

Para começar, tenho que acrescentar esta legenda:

 

"Eu e o meu filho somos de um signo com duas características muito fortes: A capacidade que temos de guardar coisas - memórias - e a preguiça…"

 

Esta capacidade para guardar coisas, significa que o meu filho tem tudo, mas mesmo tudo o que lhe dão, guardado: O primeiro carrinho, o primeiro livro, o primeiro boneco, o primeiro conjunto de lápis de cor, a primeira bola…o primeiro tudo.

 

E agora sim...Era uma vez...

 

No Verão de 2013, na Praia da Torre em Oeiras, fomos todos juntos em família passar um grande dia de praia. Como não é fácil para nós estarmos juntos, o meu filho lembrou-se que podia levar a primeira bola para mostrar ao primo que já não via há já algum tempo …tudo bem…guardámos tudo para o grande dia de praia que íamos ter em família e iniciámos a nossa viagem.

Chegámos à praia da Torre… e depois de preparar tudo, deixei os adultos junto com as crianças para irem jogar à bola à beira da água.

 

- O que acham que uma boa preguiçosa gosta mesmo de fazer na praia?

 

Isso…deitei-me na bela da minha toalha, a apreciar tudo o que a vida tem de bom…aquele solinho maravilhoso que invade a alma de uma forma tão quentinha.

Mas claro…o que acham que pode acordar uma Mãe deste sonho - o choro de seu filho que se ouvia ao longe.

Levantei-me e corri até eles, que estavam à beira da água. Estavam todos a olhar para a bola que se afastava cada vez mais para o alto mar.

O meu filho chorava muito e compulsivamente pois era a bola dele, a primeira bola que lhe eu lhe tinha oferecido, e ele estava inconsolável pois o meu filho tem uma grande ligação emocional a tudo o que é dele. E só conseguia dizer:

 

- Mãe, perdi a minha bola. Eu quero a minha bola, e chorava, chorava …. Imaginem eu, que só quero ver o meu filho feliz e a rir fiquei sem saber o que fazer…

 

Pois, como uma boa preguiçosa, nunca aprendi a nadar - aliás nem o Nadador Salvador foi buscar a nossa bola…por isso mesm, porque era só uma bola - não acham?

 

Entretanto, estava um barco grande, daqueles que os turistas alugam para estar no alto mar e apanharam a nossa bola - acreditam nisto?

Sim, apanharam a nossa bola e ficaram com ela...isto foi um sinal…

De repente, o meu sobrinho de treze anos, virou-se para mim e disse:

 

- Já sei Tia!

 

- Já sabes o quê, Tiago?

 

- Vamos ali à Marina, tem lá umas lojas que alugam motas de água. E com uma mota de água nós podemos lá ir buscar a bola do primo, o que achas?

 

Ao início, achei aquilo uma loucura.

 

- Alguma vez eu ia pôr-me numa mota de água para ir para o alto mar? - Nem isso nunca me passou pela cabeça, aliás, eu confesso que o mar alto é dos meus maiores medos e fobias.

 

Mas…lá criámos o nosso plano. Os adultos ficavam a observar o barco que tinha a nossa bola e eu e os miúdos íamos então buscar a bola.

Pois, alguém tinha que ficar a ver para onde é que o barco ia…e alguém tinha que ir buscar a bola.

Andámos, andámos, andámos e entretanto o meu filho diss:

 

- Mãe, olha eu já não quero a bola, deixa estar. Mãe, não vale a pena.

 

- E eu digo: - Deixa estar? Agora? Levantei-me da minha Toalha na praia? Já vim até aqui? Deixa estar, nem pensar…Agora tu vais ter a tua bola, eu ainda não sei muito bem como mas nós vamos buscar a tua bola.

 

Ui, eu até me arrepiei depois de ter dito isto, pois até me deu um friozinho na barriga, pois eu tinha mesmo dito aquilo alto e agora tinha mesmo que ser e o desafio estava lançado. Claro que eu tinha uma vozinha a dizer que era impossível mas tinha outra a dizer-me que íamos conseguir…

Continuámos o nosso caminho em direção à Marina de Oeiras para ir buscar a nossa bola…

Entrámos numa loja que alugava motas de água e lá estava o empregado - muito simpático por acaso -, que ouviu a história da nossa bola com muita atenção.

E começou a fazer alguns telefonemas, pois nós dissemos logo que numa mota de água estava fora de questão pois a única pessoa maior e que tinha autorização para andar era eu e eu ainda não estava preparada para fazer isso, era mesmo um passo muito grande para mim naquele momento, tinha mesmo que haver outras soluções…

E assim foi…continuámos a pensar e de repente o empregado simpático da loja disse:

 

- Que sorte, vem ai um colega meu a entrar na Marina, vamos falar com ele para ver o que conseguimos fazer, e assim fizemos.

 

Estávamos histéricos e com uma fé profunda que ele iria buscar a nossa bola…que sorte, mas, depois de contarmos a história da nossa bola ele disse que sim e nós começamos a explicar qual era o barco que tinha a nossa bola…e não correu mesmo nada bem pois estavam alguns barcos e não estava a ser fácil explicar qual deles era, então já se estava a ver qual era a solução.

A solução foi nós irmos com ele no barquinho - ui, que medo -, para irmos buscar a bola no alto mar, e vocês não estão mesmo a ver o medo e o pânico que eu senti mas eu não podia desistir naquele momento...era o momento decisivo para irmos buscar a nossa bola e lá fomos todos. Os três, mais o dono do barquinho em direção ao alto mar. Wow! Que sensação! Saí mesmo da minha zona de conforto e que medo, pânico! Mas não desisti, nem pensar nisso era bom, estávamos mesmo muito perto de alcançar o que tanto queríamos.

Lá chegámos ao barco que tinha a nossa bola e as pessoas que estavam no barco ficaram espantadíssimas com aquela situação, devem ter pensad que nós Portugueses somos mesmo loucos pois estávamos ali em pleno alto mar para ir busca uma bola do NEMO, quando lhe expliquei a situação o senhor só disse:

 

- Do you want this ball? This Ball? What a MUM do you have?

 

Riu para nós, deu-nos os parabéns pela determinação e capacidade de superação e deu-nos a nossa bola. Eu só queria sair dali.

Acreditem, só respirei quando pisei terra firme e o melhor de tudo, tínhamos a nossa bola.

E estávamos histéricos, a sentirmo-nos as pessoas mais felizes do mundo, com um sentimento que éramos os maiores do mundo e riamos tanto que parecíamos uns loucos, pois imaginávamos as caras de todas as pessoas na praia, imaginávamos a cara da nossa família quando nós chegássemos à praia com a bola.

Alcançamos o nosso grande objetivo e estávamos muito felizes com uma sensação de dever cumprido!

 

MORAL DA HISTÓRIA: A diferença entre nós termos conseguido ir buscar a nossa bola foi que em vez de eu ficar sem fazer nada, podia ter-me sentado na toalha com o meu filho a chorar, dava-lhe colinho e festinhas e passava. Em algum momento ele ia simplesmente aceitar que tinha perdido a primeira bola que eu lhe tinha oferecido e pronto, mas nós levantámo-nos da toalha e fizemos qualquer coisa e o resultado foi completamente diferente. Certo ou Errado? Não importa para nada…o importante era mesmo a lição para mim que foi a seguinte:

 

                                     "O Amor por um filho pode te levar a atravessar metade do Oceano - e vai valer a pena!"

 

 Ainda hoje esta é a história que conto nos meus Workshops, para introduzir a importância que o Coaching tem, como ferramenta brutal no nosso desenvolvimento pessoal.

 

E o meu Sonho é...

 

Seja por Mar, Ar ou Terra...eu vou continuar atrás da Vida que eu quero ter...Ser a melhor MÃE do Universo e cumprir uma das missões que tenho na minha vida que é educar o meu filho com os valores em que eu acredito mais e outros que vou integrando de uma forma equilibrada e potenciadora, mas acima de tudo quero muito que ele seja e esteja feliz. Esta passagem tem sido de uma enorme aprendizagem, muito grata a mim e a todas as pessoas que de uma forma ou outra tem tornado isto possível.

 

 

bottom of page