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Como vencer no futuro, entregando tudo ao presente?

 

Graça Paz, Pintora / Artista
 
[Penso que a história (uma das muitas) mais inspiradoras que tive não é muito fácil de contar, mas eu vou tentar. Primeiro é importante dizer que ela toca o objectivo e a força de vontade na area do trabalho, uma área com que sempre me debati no sentido de não saber fazer mais nada além daquilo que sempre soube fazer e que é..ser artista!!
 
Sendo uma área ainda bastante apontada no sentido de não ser um bom caminho se o intuito é ganhar dinheiro, aquilo que eu percebi com a minha experiência, foi que se amarmos aquilo que fazemos e o fizemos sem o intuito específico do dinheiro ele vem e o sucesso não nos é negado!! Fiz uma caminhada aprendida não apenas pela constatação própria mas porque para o saber fui ouvir quem sabe disso melhor do que ninguém. Pessoas como Donald Trump,  Warren Buffet…]
 
Pois estava eu no decorrer do meu ano de 2012 quase 2013 e a atravessar uma fase bem complicada, entre outras questões pessoais que muito me colocavam à prova. Vivi esse dois anos quase fechada comigo mesma a desenvolver uma técnica que sempre me apaixonou. A aguarela. Peguei nela como se pega num touro pelos cornos e fechei-me a estudá-la. Vi há partida que era uma área onde toda eu nadava num enorme prazer e fluidez. Estudá-la a fundo acarretou para mim um pequeno problema. Deixei de fazer aquilo que há vinte anos eu fazia e que era já uma base criada na minha arte, os acrílicos figurativos. Atirei-me de cabeça a um estilo muito mais clássico e perigoso. Claro está que deixar de pintar acrílico implicou imediatamente eu ter uma quebra no meu rendimento mensal abrupta e muito embora eu tenha começado logo a vender aguarelas, o mercado era ainda novo para mim e muito mais restrito. Foi um ano duro. Se por um lado de um prazer que quase me embebedou, por outro, e por muita criatividade que eu tivesse colocou-me realmente à prova no que toca as minhas despesas mensais.
 
Era Fevereiro de um duríssimo inverno de muita chuva, eu a sentir-me adoecer, a tentar controlar a minha vida com mil e um subterfúgios criativos, entre trabalhar sem quase dormir, dar aulas e andar no corrupio, campo-Porto, Porto-campo, cheguei a uma altura de Fevereiro em que tive uma exaustão física . Muito assuntos se fechavam na minha vida, e eu sem me dar conta que de tudo me tinha lembrado menos de mim. Quando se tem uma exaustão toda a nossa energia desaparece e por muito que a tentemos encontrar, aquela que parece uma tarefa simples do dia a dia transforma-se em algo homérico. Estava cheia de ideias, exausta, angustiada com a minha vida financeira e triste porque sabia que estava no caminho certo e algo não estava bem, senão as coisas correriam mais fluídas. Estava focada, mantinha-me no meu caminho tal como tinha aprendido, mas…
 
Certo dia acordei de manhã e tomei uma decisão.
 
Peguei no tlm, liguei para todas as pessoas mais próximas e diárias da minha vida, e disse que ia parar durante um mês, de trabalhar e de falar e pedi-lhes para não me ligaram. Precisava de dormir, recompor-me, organizar-me e sobretudo neste passo, lembro-me de numa conversas de amigos algo revoltada olhei para o céu furiosa e perguntei:
 
O que se passa contigo??? Esqueceste-te de mim??? Não me esforço o suficiente??
 
Apercebi-me nesse instante que um desabafo intenso ainda que para o céu me fez perceber que por vezes temos de deixar tudo querer controlar e abrir a porta a que algo divino aconteça ainda que incorrendo no risco de nada acontecer, mal por mal, pior não podia ficar. Para mim este pior era ainda assim relativo pois já tinha tido na minha vida situações bem mais delicadas.
 
Algo nesse momento me abandonou e eu passei um mês, a andar em passo de tartaruga, e a cuidar de mim. Dormi, comi e cozinhei só para mim, li, passeei, …tudo eu fiz, e posso dizer que na minha carteira viviam poupados 10€ e muitas contas para pagar. Claro que tinha a segurança de uma amiga que nunca me deixou cair, e um filho bem empregado em Berlim que me aquecia as costas, mas pedir a um filho era algo que eu não digeria bem.
 
O mês foi passando e eu quase no final do mesmo, acordei certo dia com uma vontade já a aflorar de…pintar!!! Já não sentia aquele peso de precisar de dormir…
A questão era que só tinha meia dúzia de tubos e não tinha dinheiro para as telas, e não queria pedir a ninguém.
 
Liguei para essa tal amiga que era a minha retaguarda silenciosa e disse-lhe que já me sentia com vontade de pintar. A alegria do outro lado da linha foi notória e o apoio para comprar as telas imediato mas eu declinei. Tinha de resolver sozinha baseado naquilo que Einstein dizia e que eu acreditava. Que nas dificuldades estavam as oportunidades, e assim desliguei e num rasgo de iluminação fui à mercearia vizinha e enchi o carro com todas as caixas de cartão que consegui deitar mão.
 
Cheguei a casa e ainda algo confusa planeei montar uma tela de cartão similar a uma tela normal mas…de cartão e se bem pensei, melhor o fiz e passei a noite, já entusiasmada a montar cartão sobre cartão aquela que viria a ser a minha imagem de marca nos tempos vindouros. O cartão sempre foi uma paixão muito embora muito pouco valorizado e difícil de vender.
A seguir peguei nas poucas tintas que tinha, estiquei-as e, dois dias depois tinha em cima da minha mesa da sala de uma casa minúscula no meio de uma quinta alagada em chuva… o meu primeiro quadro do resto da minha vida. À noite estava vendido e o meu plafond tinha passado de 10€ para 500€ num curto espaço de tempo.
 
No dia seguinte e sendo a minha amiga também a minha mecenas avisei-a de que me iria fechar mais um mês a pintar telas e a montar cartões e assim o fiz. Passado um mês eu tinha na loja dela, na Foz, 4 quadros enormes todos em cartão, e em paralelo uma série de aguarelas com que ia alternando a minha pintura acreditando piamente que o ano que tinha passado me iria servir de algo. Ou seja , era um jardim plantado.
 
No dia em que coloquei os quadros ao público aconteceu-me algo inédito, divino, e que mudou o meu sistema de crenças para sempre.
 
Recebi um telefonema logo pela manhã muito inspirador…a dizer que ainda era de manhã e estranhamente muita gente que não era habitual parava na montra e entrava a perguntar o preço dos meus quadros.
Eu podia ficar aqui ainda horas a contar de nesse dia a minha amiga me ligou de meia em meia hora com um quadro vendido, mas basta contar que nesse dia o meu plafond mudou de 500€ para 3500€ e num dia apenas vendi mais quadros do que algumas vez na minha vida (entre quadros maiores e …aguarelas e a clientes nunca antes vistos alternados com clientes habituais)
Chegamos ao fim do dia as duas estupefactas, eu nunca mais fui a mesma, ela também não, mas na verdade aquilo que aconteceu foi apenas o que diz Goethe. Que quando nos focamos num objectivo com uma vontade de leão, aquilo ganha vida, e todas as ajudas inimagináveis de pessoas e monetárias surgem como que por magia para nos garantir que saber o que queremos vale mesmo a pena.
 
No final e como que num Insigth lembrei-me do meu desabafo para o céu, na nítida sensação de baixar a guarda, do abrir espaço na minha vida para não ser só eu. Assim, conquistei dois mercados. Um de acrílico e outro de aguarelas. Ambos apaixonantes e com clientes totalmente diferentes. Ambos uma parte de mim no que toca à personalidade. A minha parte de fogo e colorida no acrílico e a minha parte de introversão e necessidade de estar só na aguarela.
 
A vida é um mix delicioso de magia se nos deixarmos encantar.
 
Acrilico: gracapazart.tumblr.com
Aguarela: gracaempaz.tumblr.com

 

 

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